Tudo estava preparado... passagens compradas, contatos com hoteis e malas
arrumadas para uma nova viagem, dessa vez rumo ao estado do Amapá para "pisar na Linha do Equador". Como a vida é
cheia de surpresas, resolvemos na véspera da viagem mudar o nosso roteiro e
fomos parar na cidade de CANUDOS, no interior da Bahia !!!
A Guerra de Canudos começou numa noite de novembro de 1896. Na ocasião, uma tropa de linha, sob o comando do tenente Pires Ferreira, estava aquartelada na entrada da vila do Uauá quando ouviram cânticos e ladainhas entoadas por um grupo de conselheiristas que carregavam estandartes e oratórios. A soldadesca abriu fogo e houve sangrenta batalha. A tropa estava em Uauá a pedido de Arlindo Leone, juiz de Juazeiro, vila ribeirinha do Rio São Francisco.
Os conselheiristas estavam indo para o Juazeiro pegar madeiras que foram compradas para as obras da Igreja do Bom Jesus, a igreja nova, mas não tinham sido entregues pelo fornecedor. Apavorado e receoso de um conflito dentro da vila, o juiz Leone pediu ao Governo do Estado uma tropa de linha para impedir a ida dos conselheiristas. Naquela noite, os soldados de Pires Ferreira foram derrotados e a investida militar ficou conhecida como a primeira expedição contra o Arraial de Canudos.
A segunda expedição foi comandada pelo major Febrônio de Brito. Chegou perto de Canudos, deslocando-se pela estrada do Cambaio, e foi desbaratada pelos defensores do Bom Jesus na Lagoa do Cipó, hoje conhecida como Lagoa do Sangue, na manhã de 19 de janeiro de 1897. Depois da derrota da expedição de Febrônio de Brito, o país voltou os olhos para aquele "arraial maldito". A imprensa começou a pedir o seu extermínio e o Governo Federal organizou a expedição Moreira César, a terceira investida militar contra Canudos.
O temível oficial que combatera com mão de ferro os revoltosos de Santa Catarina, durante a Revolução Federalista de 1893, partiu do Rio de Janeiro para a Bahia aclamado pela população. Embrenhou-se na caatinga e no dia 3 de março estava dentro de Canudos. Em meio ao combate, foi ferido e morreu na madrugada do dia seguinte. Com a morte do seu comandante, as forças da terceira expedição debandaram e fugiram.
Em poucos dias a notícia da derrota do coronel Moreira César chegou ao Rio de Janeiro. Parte da imprensa associou os conselheristas a um fantasioso movimento de restauração monárquica e vários monarquistas foram perseguidos e um foi morto pela população enraivecida.
Logo foi organizada a quarta expedição militar. Comandada pelo General Artur Oscar, era composta por dez mil soldados de vários estados do país e foi dividida em duas colunas militares que convergiram sobre a cidade de Canudos. A primeira coluna partiu de Monte Santo e a segunda de Aracaju. Se encontraram no Alto da Favela na manhã de 28 de junho de 1897.
Durante o conflito, os militares sofreram inúmeras baixas, principalmente nos combates do Cocorobó e da Favela. Neste último, estiveram perto de mais uma derrota frente aos jagunços do Bom Jesus Conselheiro.
Em outubro, depois de quatro meses enfrentando a expedição Artur Oscar, o Arraial de Canudos foi incendiado e seus bravos defensores foram mortos.
No arraial sagrado, não ficou pedra sobre pedra, como ordenaram os oficiais da quarta e última expedição militar!
O Vale da Morte aparece em vários relatos, jornalísticos e militares, sempre se reportando aos dias de fome, sede e desespero impostos à soldadesca por causa da desorganização dos comboios vindos da base militar montada em Monte Santo. Muitos foram atacados no caminho pelos piquetes comandados pelos defensores de Canudos. Por esse estreito vale, as forças da primeira coluna da quarta expedição militar tentaram chegar ao Alto da Favela no entardecer do dia 27 de junho de 1897 e foram surpreendidas pelos combatentes conselheiristas entrincheirados nos cimos dos morros que ladeiam a locação. Este local - também conhecido como Toca da Favela, Gruta da Favela, Vale Sinistro e Boca do Lobo - foi usado como cemitério durante a expedição Artur Oscar e nele estão enterrados não só militares, mas, também, mulheres e crianças companheiras e filhos dos soldados.

O Alto da Favela, também chamado de Morro Vermelho e Morro da favela, é, depois da Praça da Igreja, a locação mais importante do cenário da Guerra de Canudos. Dela, tinha-se uma visão frontal e geral do arraial conselheirista, hoje submerso nas águas do Açude Cocorobó.
Ponto de resistência dos jagunços conselheiristas no início das operações da quarta expedição, essa locação foi tomada pelos militares na manhã de 28 de junho de 1987. Nesta mesma manhã, aconteceu o encontro das duas colunas que formavam a expedição e tinham se deslocado de Monte Santo na Bahia e Geremoabo, em Sergipe. Aqui ficaram até 18 de julho, quando investiram contra Canudos, através da linha negra, e estabeleceram acampamentos e hospital de sangue ao norte da cidadela. Até o final da guerra, as forças republicanas mantiveram no Alto da Favela acampamentos militares e artilharia.
Em vários locais ainda são encontrados vestígios interessantes... fragmentos de ossos, pedaços de metais e várias trincheiras usadas pelos seguidores de Conselheiro. Em uma delas Felipe teve a ideia de como é ficar entrincheirado (rsrsr).
A Fazenda Velha, também conhecida como Tapera ou Trincheira 7 de setembro, nessa locação estavam as ruínas da antiga sede da Fazenda Canudos, onde morreu o comandante da terceira expedição militar, coronel Moreira Cesar, na madrugada do dia 4 de março de 1897. Durante a quarta expedição, este local foi importante trincheira conselheirista até a noite de 7 de setembro, quando foi tomada pelas forças republicanas.
Gerlane e Felipe registrando tudo !!!
Ao fundo, águas da barragem de Cocorobó que foi construída na década de 60; muitos afirmam que teve o objetivo de sepultar de vez a área onde era localizada o arraial de Canudos. Nessa área havia a segunda Canudos que havia sido reconstruída anos depois, já que a primeira Canudos havia sido destruída pelas tropas do exercito. Da segunda Canudos, com o enchimento da barragem, pouca coisa sobrou... devido ao baixo nível da água no reservatório, em decorrência da seca que assola a região, tivemos a oportunidade de ver parte das ruínas da igreja, mais precisamente a torre. Lamentavelmente não fizemos o registro fotográfico, apenas nas imagens de vídeo.
Resquícios da Guerra, guardados em um "museu" na vila de pescadores denominada Canudos Velho.
Felipe não perde a oportunidade para interagir e brincar...
Monumento na vila de pescadores...
Vista da atual cidade de Canudos...
Felipe observando peças arqueológicas no Memorial...
Única coisa que o exército não conseguiu destruir no arraial de Canudos. Esse cruzeiro edificado por Antônio Conselheiro, onde suas iniciais (AMMC - Antônio Mendes Macial Conselheiro) encontram-se gravadas na pedra abaixo que ficava no pedestal.
Por trás dos bancos é possível ver parte da madeira que, para muitos, foi o estupim da Guerra. Essa madeira só chegou a Canudos 100 anos após a guerra !!! Foi doada ao Instituto Popular Memorial de Canudos.
Documento relatando a doação da madeira.
Escultura existente na Pousada Sol Poente... ao fundo as águas do açude de Cocorobó.
Os textos grafados em vermelho foram retirados do GUIA DO CENÁRIO DA GUERRA, Parque Estadual de Canudos.